Beit Midrash

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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Jesus, o Império e o Judaísmo - Parte I

I Refazendo pressupostos: Jesus as fontes não-cristãs.
            
A identidade judaica de Jesus (aliás, uma premissa perturbadora para muitos cristãos desde muito tempo) desafia a muitos teólogos justamente quando estes ignoram a complexidade do judaísmo e suas transformações sofridas ao longo do período do Segundo Templo.
·         Os debates acadêmicos em torno do “Jesus histórico” lançaram agudas polêmicas acerca do ambiente-contextual em que viveu Jesus, demarcando novas fronteiras na pesquisa contemporânea. A primeira obra de vulto, de Hermann Samuel Reimarus (1694-1768), Os objetivos de Jesus e seus discípulos, publicada após sua morte, em 1778, inaugurou um campo totalmente novo que evoluiu para a assim chamada “Pesquisa do Jesus histórico”.
·         A primeira e mais completa obra investigativa sobre o Jesus Histórico apareceu em 1906, escrita pelo médico e missionário Albert SCHWEITZER (1875-1965). Durante quase dois milênios, até Reimarus, o NT permaneceu fonte inquestionável para uma possível história de Jesus (ver ENEXO I).
·         Entre as fontes extra-canônicas mais antigas (mas de relevância histórica contestável), pelo menos 4 são conhecidas por mencionarem Jesus e os cristãos. 1Suetônio (69-141 dC):
“Os cristãos, espécie de gente dada a uma superstição nova e perigosa, foram destinados ao suplício”... “O Imperador Cláudio expulsou de Roma os Judeus que viviam em contínuas desavenças por causa de um certo Cresto (Vida dos doze Césares, XV e XXV(n.25,p.256-257).
2 – Plínio, “o Jovem” (62-112 dC), escritor pagão, mostra ser parcial na sua visão negativa sobre os cristãos, mas demonstrando um modo de retratar o ‘cristianismo’:
Tinham o hábito de se encontrar em determinado dia antes do amanhecer, quando cantavam em versos alternados um hino a Cristo como se fosse um Deus, e obrigavam-se a si mesmos por um juramento solene a não praticar nenhuma má ação, a nunca cometer qualquer fraude, furto ou adultério, e nunca falsear a sua palavra, a nunca negar a confiança quando chamados a negá-la; depois do que, era seu costume se separar, e, em seguida, tomar parte de um alimento - mas alimento de natureza normal e inocente” - Carta a Trajano, Cartas X,97 (Citado por H.C. KEE, As origens cristãs. Paulinas, 1983. p.73-74.
3 – Tácito (55-120 dC).
Para destruir o boato (que o acusava do incêndio de Roma), Nero supôs culpados e infringiu tormentos requintadíssimos àqueles cujas abominações os faziam detestar, e a quem a multidão chamava CRISTÃOS. Este nome lhes vem de CRISTO, que, sob o principado de Tibério, o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício. Reprimida incontinenti, essa detestável superstição repontava de novo, não mais somente na Judéia, onde nascera o mal, mas anda em Roma, pra onde tudo quanto há de horroroso e de vergonhoso no mundo aflui e acha numerosa clientela” (Anais, XV, 44 trad. 1 pg. 311; 3).
·         O texto de FLÁVIO JOSEFO (37-100 dC) se tornou o mais polêmico de todos:
Por volta desse tempo, vivia Jesus, um homem sábio, se, com efeito, devemos chamá-lo homem. Pois ele era pessoa que praticava feitos surpreendentes, sendo daquelas pessoas que aceitam a verdade de bom grado. Ele conquistou muitos judeus e muitos gregos. Era o Messias. Quando Pilatos, depois de ouvi-lo acusado por homens do maior prestígio entre nós, o condenou a ser crucificado, aqueles que primeiro o haviam amado não renunciaram ao seu amor. No terceiro dia, ele lhes reapareceu ressuscitado, pois os profetas de Deus haviam profetizado esta e outras coisas maravilhosas a seu respeito. E a tribo dos cristãos, assim chamada por causa dele, não desapareceu até hoje” (Ant. XVIII,63-64) (o texto em negrito é questionado se foi escrito por Josefo).

·         Eis algumas questões que emergem dessas informações: Quem foi Jesus? Como viveu e o que ele ensinou teve relação com a sua morte? Sua execução explica o teor de sua mensagem?
·         Segundo HORSLEY, Jesus só pode ser compreendido dentro do contexto do imperialismo romano de sua época. Esta é, pois, uma premissa importante. Mas, e quanto ao contexto judaico? O próprio HORSLEY reconhece os efeitos desastrosos de uma teologia desencarnada, mergulhada num sensacionalismo piedoso, nutrido por uma grave falta de compromisso social e moldado por um espiritualismo inconseqüente. Expressões desse sentimentalismo espiritual exacerbado não só resistem como predominam nas igrejas cristãs atuais. As conseqüências de compreender Jesus como uma figura “meramente religiosa”, alienado do contexto político em que se povo viveu, encorajaram leitura fundamentalistas que o despolitizaram. Ao desligar Jesus de sua crença, de sua tradição religiosa e dos graves problemas sociais causados pela ocupação imperial romana na pátria judaica.
·         Com a visão despolitização da ação de Jesus, ficou fácil sua “domesticação”.

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